Título do original: Portrait de la jeune fille en feu
Ano de lançamento: 2019
País: França
Direção: Céline Sciamma
Produção: Véronique Cayla e Bénédicte Couvreur
Roteiro: Céline Sciamma
Elenco: Noémie Merlant, Adèle Haenel, Luàna Bajrami, Valeria Golino, Armande Boulanger e Michèle Clément, Christel Baras, Armande Boulanger, Guy Delamarche, Clément Bouyssou e Cécile Morel
Música: Jean-Baptiste de Laubier e Arthur Simonini
Cinematografia: Claire Mathon
Edição: Julien Lacheray
Companhia produtora: Lilies Films
Distribuição: Pyramide Films (França); Supo Mungam Films (Brasil)
Lançamento:
França – 18 de setembro de 2019
Brasil – 9 de janeiro de 2020Sinopse:
França, 1760. Marianne é contratada para pintar o retrato de casamento de Héloïse, uma jovem mulher que acabou de deixar o convento. Por ela ser uma noiva relutante, Marianne chega sob o disfarce de companhia, observando Héloïse de dia e a pintando secretamente à noite. Conforme as duas mulheres se aproximam, a intimidade e a atração crescem, enquanto compartilham os primeiros e últimos momentos de liberdade de Héloïse, antes do casamento iminente. O retrato de Héloïse logo se torna um ato colaborativo e o testamento do amor delas.
Inomináveis Saudações a todas e todos vós, Seres Do Mundo!
Muitos filmes que prezam por serem mais do que uma sucessão de imagens em sequência, alcançando o além de suas essências e propósitos iniciais, primam por naturalmente adequarem-se a uma linguagem totalmente nova. Já foram produzidas pelo mundo diversas das mais versáteis obras-primas cinematográficas, as quais originaram novas linguagens que foram e continuam sendo exponencialmente imitadas. Ao falar de um termo como linguagem cinematográfica, fujo das obviedades e mesmices do que hoje grande parte do público assiste. Público que não conseguiria propor-se alcançar a linguagem estabelecida pela Diretora Céline Sciamma nesta obra-prima que é Retrato De Uma Jovem Em Chamas, película que todo verdadeiro cinéfilo deveria ter em conta como um exemplo de que ainda existe o Verdadeiro Cinema. Apesar da enxurrada atual de filmes sem alma, sem qualidade, sem necessidade e esquecíveis, ainda é possível realizar obras como esta relíquia do ano de 2019 com sofisticação, simplicidade e infinita dedicação ao fazer artístico em si mesmo.
Este não é um filme para as massas. Este não é um filme para ser descartável. Este não é um filme para ser esquecido cinco segundos após ter sido assistido. Este é um filme para poucos, aqueles que interpretam o Cinema como um veículo que permite múltiplas abordagens da humana realidade. Este é um filme necessário para ser visto e revisto diversas vezes, capital se torna revisitá-lo sempre que for possível. Este é um filme que fica pulsante na memória, agora remeto ao que o teor, a cor e o odor dele me transmitiram. Teor de uma atmosfera brandindo estruturas imagéticas e narrativas ideais. Cor revolucionária na evolução da passagem de cada quadro. Odor perceptível se a Imersão for tão grande ao assisti-lo como foi a minha.
Senti o odor das tintas de Marianne (Noémie Merlant). Senti o odor da angústia de Héloïse (Adèle Haenel). Senti o odor da tensão emocional entre as duas. Senti o odor da tensão sexual entre as duas. Senti o odor de toda a esfera e atmosfera envolvendo o ambiente onde elas desenvolveram a mais extrema intimidade que resultou em uma avassaladora unidade. Senti o odor de cada momento Íntimo delas, seja um simples abraço, um beijo ou o do invulgar enlace sexual que não chegou a ser explicitamente mostrado. Se isto lhe parece loucura, leitora virtual, leitor virtual, que seja, então. Porém, tenho uma visão sobre uma real experiência de assistir a um filme bastante pessoal e diferente da maioria quando encontro filmes como este que mexem com emoções, ações, reações, situações e emoções dos românticos caminhos do coração.
Retrato é um operacional filme poderosamente romântico que tratado foi ao máximo como o desenvolvimento de uma pintura. Primeiro, os retoques iniciais, a preparação do quadro que motivou os acontecimentos que levaram à união de Marianne e Héloïse. Segundo, o planejamento temático, uma segura comunhão de sutis retoques que impediram grosseiros excessos que destruíssem a exigência realizável de um panorama viável para todo elemento que levou ao romance delas ser plausível. Terceiro, o estabelecimento de um sentido mais do que o da opção sexual para falar do nascimento de um Verdadeiro Amor, Este que pintura ou palavra ou verso algum pode explicar. Mesmo assim, a pintura elementar que modela o todo do filme aplica-se a tornar este um momento maior da Nona Arte. Do mesmo modo, as palavras, bem escolhidas e também muito bem aplicadas no enredo do filme, amplificam-lhe a riqueza. E também a versificação atuante no enredo faz da obra uma poesia conjugada conforme os lentos passos da unificação de duas almas.
Se o todo filmado poeticamente for interpretado, fazendo uma louvável aquisição à pintura de todo o quadro geral, veremos que o filme vai muito além da abordagem nesta e em outras Resenhas de diversos outros homens e mulheres que, como eu, foram tocados no Existir por ele. Poesia se casa com a proposta de desenvolvimento da narrativa, que não se prolonga para longe de suas metas, atos e natureza. Natureza esta que se estabelece a mais delicada e sutil no que tange ao envolvimento das personagens centrais em seu produtivo relacionamento. Atos contidos, sem escandalosas infrações da conjuntura textual, pousando levemente nas expressividades inerentes às atuações das protagonistas. Metas realizadas com uma calma que faz o espectador escrever dentro da Imersão mesma que ele é um espectador. Falando de minha experiência ao assistir pela primeira vez em uma tarde de 2022 a Retrato, eu me senti como Marianne, eu me senti como Héloïse, eu fui as duas e o filme não vai sair de mim.
Muitos filmes ficam aqui em meu Ser como referências para minha escrita. O mesmo falo de inesquecíveis e marcantes interpretações artísticas que assisto em filmes, assim como em outras produções audiovisuais. Há muito tempo não encontro atrizes de altíssimo nível como Noémie Merlant e Adèle Haenel, o que facilitou minha identificação plena com as personagens que elas interpretaram. O olhar de cada uma delas é magnético, hipnotizante, forte, decidido e direto. As expressões faciais impressionam por serem autenticamente parte de uma sutileza artística que não vem à ser adquirida em cursos, vem da alma. A categoria na qual essas duas atrizes encontram-se torna este filme inesquecível e um marco na História Do Cinema por não apelar excessivamente para cenas de nudez e sexo lésbico. As únicas três sequências de Nu são tão puras e artísticas, assim como os beijos de Marianne e Héloïse, que ensinam a muitos Diretores que nem sempre o quase total mergulho em pornográficas paragens é o fundamental em um filme deste nível ou de um nível inferior.
A Trilha Sonora discreta, a Fotografia, o ângulo das câmeras, os personagens coadjuvantes e toda a prática de pintar um inesquecível quadro para as galerias dos olhares dos cinéfilos mundiais advindo do olhar de Sciamma orientam-se como elementares complementos com tons de cores próprios. Marianne e Héloïse são o foco em meio a uma distância que une espectador ao denso universo de uma moradia que se torna palco de um dos maiores romances da Arte Cinematográfica que tive o inominável prazer de conhecer. Tudo aqui tem um desenrolar fácil de ser compreendido, sem ser um amontoado de simplórios e inférteis juízos. A história em si, perfeita em seu explorável método de nunca cansar ou ofender a capacidade intelectual de todo tipo de espectador, tem início, meio e fim coerentes. E sem um final convencional, previsível e imbecilizado, o que seria agredir horrivelmente o espectador que se dedicou a assistir todo o filme com a mente abertíssima em relação à experiência imersiva que ele proporciona.
A Diretora Sciamma é a central responsável pela sofisticada aura de filme memorável aqui presente, satisfazendo cada desenrolar de acontecimentos de um modo a captar o melhor e o maior das atrizes, dos cenários e das situações. Diretores ineficazes transformariam Retrato em um Soft Porn estilo Emmanuelle, como sugeri parágrafos acima em meu comentário sobre a não-intenção pornográfica do situacionismo da relação entre as personagens. Pintora máxima de um quadro inalterável de sentimentos nas entrelinhas, nas superfícies e nas profundidades do esquema metódico naturalista de seu modo de filmar, Sciamma promoveu uma incomum realização cinematográfica. Optando pelo minimalismo, muitas vezes sufocante, nervoso, claustrofóbico e denso o suficiente em suas camadas diversas, ela compôs uma contemporânea versão de Orfeu e Eurídice. Se você assistir ao filme, compreenderá o porquê de eu citar esta história da Mitologia Grega aqui nesta Resenha, garanto-lhe que é algo que faz muito sentido dentro do universo composicional de toda a metragem desta obra maior artística.
Quero mais de Sciamma. Quero mais de Merlant. Quero mais de Haenel. Quero mais de Retrato. Buscarei outros trabalhos da Diretora deste contemporâneo clássico do Cinema, uma raríssima jóia no meio de tanto lixo filmado nos últimos vinte anos. E assistirei mais vezes a Retrato, que se tornou para o meu gosto como cinéfilo um dos maiores e melhores filmes que já assisti até este momento do meu material Ser & Existir.
Saudações Inomináveis a todas e todos vós, Seres Do Mundo!
Céline Sciamma
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Gosto muito também da ideia de que o Conde de Milão mencionado é um outro ser preso a uma ilha: Próspero, de A Tempestade, de Shakespeare.