"Este mundo que nos carrega, continua a girar em meio a uma escuridão sem rumo."
Chobi
Título do original: Kanojo to Kanojo no Neko
Roteiro: Makoto Shinkai
Arte: Tsubasa Yamaguchi
Tradução: Karen Kazumi Hayashida
Ano de lançamento do original: 2016
Anos de lançamento das edições brasileiras: 2019
Editora original: Kodansha
Editora brasileira: NewPOP Editora
216 pags.
Sinopse
Um gato e uma garota que mora sozinha se conhecem na primavera… Ao viver sozinha, ela aprende a alegria e a solidão de ser independente, enquanto o gato, que recebeu o nome de Chobi, descobre a existência do mundo através dessa garota. O tempo desses dois passa lentamente, mas a severidade do mundo acaba por alcançá-la…
⚖️Créditos da Sinopse: NewPOP Editora
Inomináveis Saudações a todos vós, Seres Do Mundo!
A solidão mais frutífera é aquela que vem da alma e não tem qualquer necessidade de ser explicada, nem estudada ou reduzida a ser classificada como mero egoísmo. Miyu, a garota, se encontra em um estado de vida solitária por opção, não imposição. Chobi, o gato, que ela adota após encontrá-lo em uma caixa na rua, aprende com ela a perceber todo o mundo que o cerca. E as pressões deste mundo, no entanto, em nada atrapalham aos movimentos dela e dele no pequeno mundo que compartilham, um aconchegante apartamento. Uma história muito simples é a dos dois, pontuada pela segurança de toda uma sensibilíssima escrita nascida do talento de Makoto Shinkai para contar histórias. E os desenhos suaves e cativantes de Tsubasa Yamaguchi dão todo o fundamental complemento a uma história que de positiva maneira transita entre o Surrealismo e o Realismo.
Este é o segundo Mangá do Shinkai que ele, já estou me tornando um grande Fã do trabalho por ele realizado. O modo dele contar uma história com uma grande sensibilidade, sinceridade e humildade tem muito a ver com a ideia que alimento acerca de como boas escritas devem ser. A delicada história emociona na medida certa e nunca descamba para qualquer forma de exagero melodramático escandaloso. A amizade de um felino com sua dona é pontuada por uma dinâmica de cumplicidade. Mesmo não sabendo falar, Chobi compreende toda a dolorosa situação que acompanha os dias de Miyu. Sem saber que seu gatinho se preocupa com ela o máximo que pode, ela se sente livre para falar do que sente para ele.
Companhia sublime a de um gato, por experiência própria sei o quanto um anjo desses é capaz de preencher determinados vazios na vida de um(a) tutor(a). Por viver em seu mundo seguro e silencioso em companhia do Ser que acolheu, Miyu parece deslocada do resto da Humanidade, não sabendo se relacionar e conviver em grupo. A sensação de que o tempo pára, às vezes, no Mangá, quando o apartamento dela surge em quadros que muitas vezes optam pelo silêncio. Neste silêncio, tudo dito além do que fica exposto nos poucos diálogos da obra é mais do que o suficiente para a mesma ser entendida e aceita. A história, em si, exige uma tendência muito forte para a contemplação, não sendo uma obra de agitação em nenhum momento.
E por causa dessa característica, não a recomendo para leitores nada acostumados com narrativas lentas. E esta narrativa de Miyu e Chobi segue em curso no que chamamos aqui no Brasil de "devagar, quase parando" e não serve aos que querem adrenalina a todo momento em uma leitura. Como em O Jardim Das Palavras, a presente obra que é o objeto desta Resenha exige em segundo lugar muita sensibilidade dentro de um nível poético. Não é mesmo para todo tipo de público leitor, mas a um grupo de leitores que procura na segurança da mais etérea das narrativas observar o sentido de cada detalhe de um desenho e de um diálogo. Assim foi feito por Shinkai em O Jardim e se repete aqui com uma delicadeza ainda mais amplificada.
Por identificação total com a história, amei a mesma. E este é o terceiro ponto que tenho a acrescentar acerca de quem busca ter em sua mangateca (este termo existe, não posso estar inventando-o agora, pesquisem na Internet; melhor do que usar o termo toshoukan, que significa biblioteca em Japonês e abarcaria outras obras que não seriam Mangás; sendo assim, aquele termo vou passar a usar em minhas futuras Resenhas sobre essa Arte): apenas quem vive uma vida solitária, buscando a si mesmo ou simplesmente vivendo cada dia como um novo dia, vai se identificar 100% com Ela E O Seu Gato. Com ou sem um gatinho em casa, toda solitária e solitário da Terra tem nesta obra uma fiel representação do que é este tipo de condição no mundo além de uma casa ou apartamento.
E as estações do ano passam-se bem devagar para pessoas como nós, os que vivem sozinhos. E passam do mesmo modo para Miyu e Chobi, os quais experimentam a passagem de cada dia sentindo o pulsar das horas que, aparentemente, desaparecem no íntimo mundo deles. Pareço estar escrevendo sobre mim mesmo aqui, mas reitero sempre que eu não leio algo simplesmente por ler. Me entrego. Me deixo absorver. Me deixo afogar. Me deixo morrer. Me deixo renascer. Eu sou assim esse tipo de leitor e se você também é, aneki e niisan, não vai se arrepender de ter em sua coleção este delicadíssimo Mangá.
Saudações Inomináveis a todos vós, Seres Do Mundo!