Os Relacionamentos Amorosos São Realmente Necessários?
Inomináveis Crônicas Contemporâneas #1
Muse Of Love – Jean Macaluso
Inomináveis Saudações a todas e todos vós, Seres Do Mundo.
Há muitas palavras acerca do que chamamos de relacionamentos amorosos pelo mundo das informações que nos rodeiam dentro e fora do Ciberespaço. De livros de Auto-Ajuda a observações teóricas de alguns filósofos que se voltam para essa temática, surgem em muitos graus os mais diversos palavreados, opiniões, pontos de vista e chavões que apenas auxiliam no aumento do peso de todo o senso comum colado ao mesmo. Em cada um dos casos citados, os que se dizem "especialistas no amor" dão suas visões baseados em experiências pessoais e nas de outras pessoas, sem nunca terem se perguntado o porquê de sermos obrigados a formarmos casais para os mais diversos tipos de conluio. Sejamos Heterossexuais, Homossexuais, Assexuais e outros classificados dentro do Espectro da Sexualidade Humana seguimos as palavras dos "especialistas", temos também as nossas opiniões influenciadas pelo senso comum e nunca paramos para nos perguntar sobre aquele porquê da necessidade de termos alguém intimamente próximo demais de cada um de nós. Repetidores de palavras em ações e pensamentos como papagaios, fazemos o que todos os demais fazem e vivemos como todos os demais vivem, sem personalidade e nem a particularidade de questionarmos tudo que somos socialmente obrigados a replicar. Na questão dos relacionamentos amorosos, toda a autenticidade destes é uma mentirosa fábula que acreditamos a partir de outras pessoas e não indagamos se eles nos são realmente necessários.
Escrevi a palavra Amor acima com "a" minúsculo porque o que se conhece mundialmente como aquele sentimento hoje é um mero produto mercadológico. Vulgarizado por Livros, Novelas, Revistas, Séries, Quadrinhos, Mangás e obras artísticas de outras vertentes criativas, ele perdeu todo seu verdadeiro significado para nós que somos mecanicamente forçados a acreditar que o sentimos direcionado a alguém. Nos últimos dois anos, tenho assistido muitas produções orientais e me volto de vez em quando para as que apresentam uma natureza romântica em suas estruturas. Filmes, Dramas e Doramas apresentam estereótipos que uma pessoa de senso crítico muito elevado como eu identifica com bastante facilidade. As heroínas românticas são, em todas as vezes, sonhadoras demais, inseguras ao máximo e ridículas ao extremo por serem como bonecas que precisam ser enfeitadas pela admiração de um homem dentro de um final feliz. Os heróis românticos são, na grande maioria daquelas obras, homens grosseiros, rudes, machistas, misóginos e possuidores de um Ego que necessita do rastejar das apaixonadas por ele até que a aceitação venha mais por conveniência social do que por gostar delas. Os amigos e familiares de ambos os lados se concentram em palavras de efeito, incentivos e todo aquele básico esquema de apoiar uma pessoa para que ela encontre "a pessoa certa para um relacionamento duradouro". Qualquer pessoa bastante inteligente verá que tudo na Ficção Oriental a tratar do Amor é Pseudoromantismo barato; e a parte da Ficção Ocidental que trata de romances em diversas Mídias não tem uma atuação melhor, jogando em nós um torrencial de jornadas pseudoromânticas tão repetitivas, antiquadas, monótonas, dispensáveis e forçadas quanto as do Oriente. E o pior é que continuamos assistindo a isso tudo, algumas vezes nos emocionando demais porque nossas mentes se permitem imergir nas histórias contadas para as existenciais crianças que somos.
Todos nós somos carentes de alguma maneira, até mesmo dentro de um relacionamento amoroso porque sempre irá nos faltar algo que um(a) parceiro(a) jamais será capaz de totalmente substituir, preencher e concretizar. Sabemos o que sempre nos falta, mas temos medo de nos machucar ou de machucarmos quem está ao nosso lado se expressarmos isso a partir dos nossos lábios. Por causa dessa nossa fraqueza casada com muita falta de coragem, passamos um determinado período ou uma vida inteira ao lado de alguém que sabemos, bem no recôndito mais secreto dos nossos corações, não ser aquele(a) que nos dá o que verdadeiramente desejamos. Os que trocam constantemente de parceiro(a) dão os sinais mais nítidos dessa parte da natureza humana, mas criticamos tais pessoas como sendo "volúveis", "superficiais", "libertinas", "mulherengos(as)", "devassos(as)", "ninfomaníacas"... Criticamos por sermos covardes que não admitem o vazio interior que o calor de outro humano corpo nunca conseguirá fazer desaparecer. A Espécie Humana é a única iludida entre todas as Espécies Planetárias por possuir a capacidade de raciocinar e não utilizar a mesma de uma forma correta neste e em outros assuntos da vida comum. Observamos que alguns exemplares entre os animais, que acreditamos não serem racionais, demonstram possuir uma maturidade muito maior que a nossa porque não são apegados aos parceiros com os quais procriam. São Seres isentos de ilusões e sonhos românticos que nada acrescentariam a eles, cumprindo papéis naturais em conformidade com suas limitações e habitat. O que nós fazemos é bem diferente, o inverso, exigindo automaticamente da nossa vida que ela nos direcione para os braços de alguém sem admitirmos as nossas limitações apenas porque o habitat social em que vivemos aprova quem segue o roteiro de uma "vida normal" e condena quem não quer segui-lo.
"Vida normal", para certos nichos da nossa Espécie, é aquele milenar esquema industrial que nossos Ancestrais tornaram uma religião tradicional (no sentido de uma religação com a incessante expansão de todas as coisas no infinito mar de tudo que nasce na Criação, conforme a minha visão filosófica inominável): nascer, crescer, namorar, casar, procriar, criar os(as) filhos(as), envelhecer e morrer. Instruir-se, fora do âmbito escolar e do universo acadêmico superior, sobre cada questão simples ou complexa do nosso mundo, não entra no espaço das práticas existenciais aceitáveis das pessoas que defendem autoritariamente o que é uma "vida normal". A questão dos relacionamentos amorosos serem ou não necessários nunca passa pela mente dessas "pessoas defensoras da normalidade social" e contamina a todos pelo planeta de diferentes modos. Por mais que alguns e algumas digam que não querem se relacionar com ninguém, tais declarações são apenas reações defensivas nascidas de decepções nomeadas como amorosas. Não é um desejo vivo que respira por si mesmo e nem um definitivo abandono das tentativas de encontro de um "par ideal"; nem é uma autêntica revolução pessoal contra a Involução Social, a qual preconiza que todos nós devemos seguir uma cartilha pré-determinada para sermos "felizes e realizados" por toda nossa vida. E tais pessoas que "não querem mais saber do amor" voltam a se relacionar um dia, se decepcionando ou não, continuando a fazer parte da grande roda dos(as) perseguidores(as) de uma absoluta completude que nunca virá. Por sermos assim tão fracos, dizendo ou não que queremos ficar sozinhos, sentimos o total peso dos olhares, falatórios e acusações dos "agentes da normalidade social" se não andamos de mãos dadas com alguém na rua no bairro onde residimos, por exemplo. Dizemos, então, que não estamos nem aí para esse tipo de gente; entretanto, sentimos uma mágoa e uma tristeza intensas, que não revelamos nem mesmo para nossos melhores amigos(as), quando não encontramos o parceiro(a) que a sociedade dos "normais" exige que encontremos. A chance de começamos a estudar a necessidade de nos relacionarmos amorosamente pode nascer daí, mas a imensa maioria prefere seguir o "você um dia vai encontrar alguém que te ame e valorize de verdade" dito por pessoas com as quais temos ou não intimidade do que o "você precisa questionar se há mesmo alguma necessidade ou valor em sua busca por alguém que dizem ser a cara-metade que um dia encontrará" dita no abismo do nosso Ser.
Sabemos que beijar é bom. Sabemos que um abraço apertado é muito bom. Sabemos que o sexo é algo acima do que se considera bom. Mas, os beijos, os abraços e o sexo são insubstituíveis ou os praticamos e pensamos neles apenas para não sermos tratados e vistos como "anormais"? Casar e ter filhos segue o mesmo parâmetro acima, mas nem toda mulher está preparada para ser esposa e mãe, nem todo homem está preparado para ser esposo e pai. As pessoas que continuam acreditando no que dizem ser uma "vida normal" seguem um texto escrito por conhecidos(as) Autores(as) acessíveis a todos os Seres Humanos: os reguladores do ajuste social. Muitos(as) casam apenas para ajustar-se à família, aos amigos, aos vizinhos, aos conhecidos e aos desconhecidos, nunca por amor e nem sabendo o que é amar. Outros(as) se casam por dinheiro ou por conveniência, obtendo vantagens sociais consideráveis por estarem ao lado de um parceiro(a) bem-sucedido(a) que fingem amar. Em muitos casos, há os que se casam apenas para não se sentirem mais solitários e não enfrentarem sozinhos os momentos finais de suas existências físicas. Nada disso dá certo muitas vezes, os divórcios são a solução e os traumas nos(as) filhos(as) são profundos. No entanto, as crianças ou adolescentes amadurecem, agem dentro da "normalidade" como os pais agiram, casam-se pensando ou fingindo amar, divorciam-se, passam um tempo sozinhos(as) e após este partem em nova aventura para "o encontro de um novo amor". Vocês se perguntam agora como certos casais conseguem ficar juntos por cinquenta ou mais anos, demonstrando possuir um pelo outro Amor com "a" maiúsculo. Estes eternos casais sabem mesmo o que é O Amor ou continuam juntos por anos sem fim apenas porque tem medo de, caso separados, não consigam encontrar outra pessoa com a qual dividir uma casa e terminarem sós quando as cortinas de suas existências físicas estiverem se fechando? É bom ou ruim questionar todo casal de namorados(as) ou esposos(as) que vemos pelas ruas, no Facebook e no Instagram demonstrando uma perfeitíssima felicidade, completude e amor conforme a vida social pressiona para assim ser? É bom ou ruim questionarmos a nós mesmos se seremos realmente felizes, completos e amaremos genuinamente alguém dentro da obrigação social de relacionar-se amorosamente?
Obrigação. Relacionamentos amorosos são uma obrigação, mesmo no Século 21 que deveria ser o século iniciador do Racionalismo Absoluto que nos faria a tudo e a todos questionar. Nunca foram uma Devoção, algo para o qual nos direcionamos conforme os ideais do nosso Ser e não os do Ser de outros. A Inteligência Natural que tanto nos dá orgulho falhou neste ponto e em todos os pontos que se voltam para o estudo dos Humanos Sentimentos. A Inteligência Artificial, atualmente tão na vitrine das novidades tecnológicas contemporâneas, se um dia for programada para responder sobre o que é amar e qual a necessidade de cada relacionamento amoroso, poderá chegar a uma resposta superior a de todos os Pensadores da História Mundial que discursaram sobre essas questões. Porque a IA se baseia em respostas lógicas medidas por quânticos níveis de dados que lhes são apresentados, sem o sentimentalismo e as experiências que nos modelam apenas como reativos por repetição e ativos por condicionamento. É uma vergonha total para a nossa Espécie que algo criado por nós possa um dia ter a capacidade de nos revelar algo que há séculos deveríamos saber. E mais vergonha ainda é sermos conscientes que devemos investigar as origens, peculiaridades e sentidos dos nossos sentimentos fazendo-nos de cegos, surdos e mudos para aquela conscientização. Nunca seremos entes oniscientes, onipotentes e onipresentes lógicos, como em um possível futuro os Seres que nascerem da IA possam se tornar por meio da evolução natural de toda a Corrente Informacional Terrestre. Demonstramos, em ocasiões diversas, sermos mais irracionais do que os considerados assim e fugimos de todas as tentativas de reflexões sobre tudo que o enredo da "normalidade" injeta em nossos caminhos. Tomamos consciência de uma pessoa em nossos braços, porém somos incapazes de conseguir iniciar todos os porquês do PORQUÊ precisamos de uma pessoa em nossos braços. As tendências sociais, diariamente, afogam o surgimento do menor dos porquês e cegamente tendemos a sonhar e a desejar possuir corpos e corações. Não sabemos se necessitamos realmente de outros corpos para sermos o que somos. Não sabemos se necessitamos realmente de outros corações para nos realizarmos como aquilo que pretendemos ser. Ilogicamente, seguimos em frente na "busca da pessoa amada" sem buscarmos a nós mesmos através dos porquês necessários que consigam traduzir em linguagem humana o que incondicionalmente somos.
Respostas são necessárias sobre o publicitário mundo encantado do amor mercantil que os séculos construíram. Mas, as perguntas necessárias nunca conseguem ser formalizadas dentro e fora de nós. E seguimos acreditando que para nós servem os exemplos de casais sorridentes felizes nas obras ficcionais, nas Redes Sociais e nas ruas do planeta. E seguimos sendo anti-naturalmente guiados por tais informações que não questionamos porque queremos viver como pessoas sorridentes felizes ao lado de uma pessoa especial sorridente feliz.
Não estamos conectados conosco mesmos.
Saudações Inomináveis a todas e todos vós, Seres Do Mundo.