Japão
2010
Cor
106 minutos
Idioma: Japonês
Título original: 告白, Kokuhaku
Direção & Roteiro: Tetsuya Nakashima
Baseado na obra Kokuhaku, da Autoria de Kanae Minato
Elenco: Takako Matsu (Yuko Moriguchi), Masaki Okada (Yoshiteru Terada, aka Werther), Yoshino Kimura (Yuko Shimomura), Yukito Nishii (Shuya Watanabe), Kaoru Fujiwara (Naoki Shimomura), Ai Hashimoto (Mizuki Kitahara) e Mana Ashida (Manami Moriguchi)
Edição: Yoshiyuki Koike
Distribuição: Toho Company
Data de lançamento: 05 de Junho de 2010
Sinopse:
A Professora do Ensino Médio Yuko Moriguchi anuncia para sua classe turbulenta e desrespeitosa que ela vai se demitir antes das férias de primavera. Ela explica que porque o pai soropositivo de sua filha Manami, de quatro anos, estava doente, ela costumava levar a menina para a escola com ela. Um dia, Manami foi encontrado afogado na piscina da escola. Ela explica que dois alunos de sua classe, a quem ela chama de 'Aluno A' e 'Aluno B', assassinaram sua filha. Yuko havia encontrado uma pequena bolsa de coelho entre os pertences de Manami que não pertenciam a ela, o que a levou a questionar Shuya Watanabe, um de seus alunos. Shuya, Aluno A, imediatamente admitiu ter matado Manami, então zombou de sua reação compassiva como 'Brincadeira'.
⚖️Créditos Da Sinopse: Wikipedia
Inomináveis Saudações a todas e todos vós, Seres Do Mundo!
Muitos costumam dizer que "histórias de vingança no Cinema são todas iguais" e até abandonam filmes com essa temática quando surgem. Em 2022, O Homem Do Norte explorou a energia vingativa de um personagem existencialmente ferido em um excelente filme, o qual atraiu elogios entusiasmados passando a ser por quem o assistiu o melhor filme do ano de 2022 (apesar de este ano ainda nem estar na metade quando ele estreou nos cinemas). Doze anos antes, este filme que assisti em uma madrugada daquele ano e que resenho aqui no Mundo, desconhecido para muitos ainda, é uma obra-prima que tratou de Vingança (com "V" maiúsculo) com uma densidade ainda mais aguda, visceral e contundente do que o filme de Robert Eggers acima mencionado. E sem fazer uso pornográfico de Gore (tem gente que acha que apenas isto faz um filme onde personagens se vinguem ser bom; o mesmo vale para os mais superficiais apreciadores dos filmes de Terror e Horror) e nem de níveis um pouco menores de violência gráfica excessiva. As estocadas aqui são psicológicas, tornando Confessions um exemplo de como um tipo de história tantas vezes tratado de tantas diversas maneiras ainda pode, mesmo assim, inovar.
A construção do filme segue um ritmo lento, como é o costume oriental de desenvolvimento de uma película cinematográfica. Isto pode desanimar os afoitos como os que citei acima e todos os espectadores que buscam apenas divertimento quando assistem um filme. Se você aí tem esse tipo de pensamento e comportamento, passe bem longe de Confessions porque este filme é um Tratado Psicológico Completo fazendo um metódico Raio X das razões da perversidade humana. Isso explica poucas pessoas conhecerem-no e se eu não tivesse decidido buscar filmes fora do hoje desinteressante Cinema Hollywoodiano (que o MCU está destruindo cada vez mais ao expandir sua Existência além do necessário), continuaria ignorando a presença dela entre os filmes mundiais. Algo que ultimamente tenho pensado é no quanto determinadas obras chegam até nós em determinados momentos de nossas vidas. Não sei se há dez anos atrás, no meio do início de uma delicadíssima situação pessoal minha, eu teria a sensibilidade intelectual para compreender o que o Diretor e Roteirista Tetsuya Nakashima pretendeu elaborando uma adaptação de obra literária peculiarmente diferenciada.
Ainda não pesquisei para saber se existe uma Tradução em Português da obra original de Kanae Minato, farei isto após escrever este texto analítico sem Spoilers. Gosto de comparar o original com a adaptação ou adaptações, versão ou versões. Pois, existe uma grande diferença entre adaptação e versão, a qual em um texto futuro elaborarei alguns apontamentos. De pronto, a necessidade aqui é enfocar a psicoterapêutica narrativa determinada por uma busca das razões por trás de um revoltante crime dentro de um filme de poderoso teor. Teor este invulgar em sua precisão narrativa pontuada por uma atmosfera estranha, muitas vezes surreal, auxiliada por uma Trilha Sonora mais estranha ainda casada com uma exuberante Fotografia. O Surreal, entretanto, não se comporta acima do Real porque a todo momento é relembrado que o Drama enfocado trata de um Grande Crime perpetrado por dois adolescentes contra uma indefesa criança.
Os pés estão fincados no chão quando surgem as reflexões de cada personagem. Excepcional e brilhante em seu trabalho, a Atriz Takako Matsu, que interpreta a personagem principal, a Professora Yuko Moriguchi, incorpora com tanta perfeição uma mãe em busca de vingança que eu realmente senti toda a Dor, Tristeza, Revolta e Ódio de sua personagem. O discurso inicial dela, um dos mais notáveis que já assisti em um filme, para alunos que, nitidamente, não lhe dão qualquer valor e desprezam-na, dá uma dinâmica ideia de que o filme não é apenas mais uma comum trama narradora vingativa. É o discurso que anuncia o todo do filme, reunindo as cenas seguintes, os movimentos dos personagens e a concepção do filme. Cheguei a essa conclusão ao término dele e se fosse possível assisti-lo de trás para a frente em alguma montagem a confirmação do que eu afirmei acerca do discurso seria comprovada.
Porque é um discurso que exibe um problema social profundo da Sociedade Japonesa, cujas Leis não punem rigorosamente menores de idade que cometem crimes hediondos. Mais ainda, o discurso evoca todo um assombroso descaso da parte de Cidadãos Japoneses quando crimes horríveis são praticados, sendo os alunos despreocupados e nada interessados no que a Professora Moriguchi dizia representantes daquela Sociedade. Neste meu entendimento, o Aluno A (Shuya Watanabe) e o Aluno B (Naoki Shimomura) são os produtos diretos de um enredo social degradado a construir mais monstros como eles de modo gradual dentro de uma estrutura arcaica que não consegue a isto impedir. Educação falida molda Seres Humanos falidos moral e existencialmente, o que a Professora percebeu dentro das tristes conclusões às quais chegou após ouvir tudo que ouviu de um dos responsáveis pela morte da filha dela. Então, somente restou a ela restou mover a mais torturante e aplicada vingança possível já imaginada em uma obra ficcional.
Tortura psicológica que perseguiu de um implacável e impiedoso modo os dois criminosos. Os atores que interpretaram Shuya e Kaoru, Yukito Nishii e Kaoru Fujiwara, respectivamente, tiveram grandes desempenhos, demonstrando que souberam captar as essências de seus respectivos personagens. Em certo momento do filme, Crime E Castigo, de Fiodor Dostoievski, é citado, referência básica da obra inteira especialmente no tocante ao peso do crime acima dos dois personagens. Os efeitos do discurso da Professora Moriguchi e da revelação feita por ela ao final foram neles bem diferentes. Não vou estragar aqui contando como foi, o que dá para mencionar, apenas, é que os dois tiveram tudo o que mereciam. Não senti pena deles, nem identificação; muito menos, aguardei recuperação, principalmente, de um deles, o pior dos dois, o qual apenas assistindo vocês saberão qual é. Pouca idade de criminosos não os torna anjos que perderam as asas e anomalias como esses tipos de seres merecem penas que vão da Prisão Perpétua à Execução.
A mãe que revidou considerou que matá-los, apenas, não seria algo que lhe traria a recompensa que buscava. Fazê-los sofrer na consciência, explorando-lhes todas as fraquezas, até um clímax que me fez pular no sofá devido à inesperada surpresa, foi o objetivo dela. Como dito acima, os dramas pessoais dos dois assassinos não me comoveram e, como não sou hipócrita, não escreveria aqui o contrário. Dentro de minha sinceridade, lhes digo que a vingança da mãe retratada neste filme foi aprovada pela minha visão como Ser Humano. Não tenho filhos e se uma filha minha fosse assassinada ou violentada, moveria tudo na Terra atrás dos responsáveis para fazê-los pagar da pior maneira possível. Não faria como ela, que teve a paciência mais transcendental de todas ao planejar como faria aqueles que odiava e nunca perdoaria pagar pelo que fizeram. E ela conseguiu, um fato que conto aqui e que não representa diretamente um Spoiler.
Para os espectadores, as Confissões dos dois monstros, em específicos momentos do filme, exibem variadas distorcidas e disfuncionais aberrações psíquicas. Confissões de outros personagens em redor deles somam com camadas que apresentam ainda mais a doença de uma Sociedade que não tem Leis mais ferrenhas contra aqueles (sim, o Japão, neste quesito, é muito parecido com o Brasil). E a Confissão da Mãe e Professora, Yuko Moriguchi, consciente daquelas aberrações e daquela doença, dá sentido e autenticidade à Vingança que promoveu. Dentro de filmes assim, podemos encontrar respostas ou mais perguntas que são adicionadas às nossas já vastas internas questões. Para mim, toda resposta foi encontrada nas palavras desta Resenha entregue para vossas leituras. Para cada espectador, há respostas diferentes. Para cada um que, após ler este texto, buscar assistir ao filme, também chegarão diferentes respostas. Ou mais perguntas. Ou nenhuma pergunta. Ou nenhuma resposta.
No entanto, pelo menos, quando o filme terminar, garanto-lhes que cada um sentirá que a Vingança vista nele valeu a pena.
Saudações Inomináveis a todas e todos vós, Seres Do Mundo!