Análise Da Máxima "O Homem Que Medita É Um Animal Depravado" De Jean Jacques Rousseau
O Mundo Inominável #45
“(...) Quanto às doenças, não repetirei as declamações inúteis e falsas que faz contra a medicina a maioria das pessoas de boa saúde, mas perguntarei se há uma observação sólida da qual se possa concluir que, no país em que essa arte é mais descuidada, a vida do homem seja mais breve do que naqueles em que a cultivam com o maior dos cuidados. E como poderia acontecer, se nós nos causamos males mais numerosos do que os remédios que a medicina pode nos fornecer? A extrema desigualdade na maneira de viver; o excesso de ociosidade de uns; o excesso de trabalho de outros; a facilidade de irritar e de satisfazer nossos apetites e nossa sensualidade; os alimentos muito rebuscados dos ricos, que os nutrem com sucos abrasadores e que determinam tantas indigestões; a má alimentação dos pobres, que frequentemente lhes falta e cuja carência faz que sobrecarreguem, quando possível, avidamente seu estômago; as vigílias, o excesso de toda sorte; os transportes imoderados de todas as paixões; as fadigas e o esgotamento do espírito, as tristezas e os trabalhos sem número pelos quais se passa em todos os estados e pelos quais as almas são perpetuamente corroídas — são, todos, indícios funestos de que a maioria de nossos males é obra nossa e que teríamos evitado quase todos se tivéssemos conservado a maneira simples, uniforme e solitária de viver prescrita pela natureza. Se ela nos destinou a sermos sãos, ouso assegurar que o estado de reflexão é um estado contrário à natureza e que o homem que medita é um animal depravado. (...)”
in: Discurso Sobre A Origem E Os Fundamentos Da Desigualdade Entre Os Homens
pags. 44-45
Inomináveis Saudações a todas e todos vós, Seres Do Mundo!
A animalidade possui diversas características e peculiaridades que manifestam-se conforme os modos e maneiras naturais ou adquiridas pelos entes humanos. Animalidade, no sentido dos dicionários, é “caráter do que é animal, os atributos do animal”; “conjunto das faculdades puramente animais, por oposição às faculdades humanas”; “alimárias, brutos”. Os dicionários, no entanto, não julgam as “faculdades puramente animais” como passíveis de manifestarem-se nos supostos seres racionais que são os seres humanos. Nos animais, que O Homem considera inferiores a si, é bela e puramente natural a força de cada faculdade, enquanto que nele todas estão corrompidas. Ousarei comprovar que O Homem é menos evoluído do que os animais.
“O homem que medita…”
Meditar é um processo de rápido embotamento do pensamento, uma fantasia escravizadora, uma reles onírica fantasia. Medita-se de muitas formas, mas todas elas levam à artificialidade: desejos, razões e sensibilidade artificiais. A meditação faz de uma mente sadia o maior dos passos para a insanidade na forma de uma total falta de apercebimento dos fatos e fatores artificiais surgidos do travamento da liberdade dos atos, palavras e pensamentos.
Originalidade: o que é? Originalidade: o que a fez perder-se através dos tempos? A animalidade social tornou os homens pequenos, absurdos e irreais. Na simplicidade do viver dos tempos primitivos a vida humana ascendia a estados transcendentais de natural originalidade em todos os sentidos. Refletir, meditar, não existia em um mundo de selvagens, sábios selvagens, que agiam livremente sem as preocupações de estarem sendo subversivos, imorais e criminosos. Na Desgraça Contemporânea de dominantes sombras qualquer indivíduo que queira retornar à sábia selvageria é classificado sumaria e preconceituosamente naqueles termos. Tudo hoje é um fim socialmente organizado.
“... é um animal depravado”
Cuidadosamente, tudo feito em vista da harmonia social é infinitas vezes quase pensado. Um bem para todos, politicamente pensado, torna-se um bem para poucos; uma educação aprimorada para as classes baixas, pensada pela elite social, torna-se uma educação aprimorada exclusiva para os da classe alta; uma economia forte igualando os cidadãos na renda, pensada pelas multinacionais, torna-se uma economia fortalecedora do domínio das mesmas aumentando a desigualdade entre aqueles; uma cultura verdadeira de primorosa identificação com caracteres de uma nação, pensada pelos defensores da má globalização, torna-se uma cultura moldada por padrões alienígenas a uma nação, a esta descaracterizando em sua identidade; uma religião sincera que repouse em concretos conceitos lógicos, pensada pelos mercadores do “Deus” que eles criaram, torna-se uma religião enriquecedora de hipócritas enganadores a expandirem ridículas superstições alimentadoras do fanatismo; e tudo de grande ou pequeno que naturalmente seria majestoso, pensado socialmente para o bem social, adquire a animalidade da queda humana nos abismos de sua própria perdição refletida e meditada.
Depravação, dicionários novamente, “ação ou efeito de depravada”; “corrupção, degeneração”; “alteração mórbida”. Ao dar ao mundo em geral a frase “O homem que medita é um animal depravado”, Jean Jacques Rousseau sintetizou tudo o que, resumidamente, O Homem é após ter abandonado o estado natural e adentrado no estado social. Os animais, agora não fazendo nenhuma alusão aos inventivismos intelectuais sobre eles presentes nos dicionários, são superiores pois neles a mancha da depravação do Ser não lhes é inerente. Um cão, como político, latiria menos e realizaria mais; moscas, como membras da elite social, saberiam pousar apenas nas suas próprias mesas e não tentariam contaminar pratos alheios; ursos polares, como proprietários de multinacionais, permaneceriam em seus próprio habitat e não escolheriam dele sair para explorar outros que não lhes pertencem; baratas, como os maus defensores da má globalização, ficariam dormindo em paredes de todas as casas e assim seriam melhor eliminados; porcos, como os mercadores do Deus que alguns criaram, ficariam engordando em chiqueiros e deixariam de sujar púlpitos e altares; e toda a fauna disponível na Terra seria uma substituta naturalmente benéfica dos depravados que, por uma aberrante anomalia da natureza, raciocinam, falam e escrevem.
O objetivo da Filosofia é totalmente sério, mas diante de tão nefasto caos verdadeiro no mundo social, tomo a liberdade de ironizar a maioria dos depravados, animais depravados, dentre nós. Não sou um comediante, nem escrevo comédias ou rio da situação mundial de perda das qualidades naturais que nos eram tão singelas na Antiguidade. Rousseau, ao escrever aquela frase, talvez imaginasse que o Gênero Humano, subitamente iluminado pela verdade nele inserida, se unisse para uma revolução radical de Si Mesmo exigindo o retorno aos braços maternais da Natureza. Ó, filósofo pai do Romantismo, nenhum ser deste humano orbe cadavérico entendeu a vossa frase pois nela meditou como o animal depravado que é! Ó, filósofo Jean Jacques Rousseau, movimentos, revoluções, ismos, guerras, tecnologias, nada levou os seres humanos sociais a verem-se como depravados, animais depravados, e não Deuses, como depravadamente julgam ser! A maior comédia humana sem nenhuma graça é esta.
Mais abarrotado de diminutas possibilidades de não-depravação, O Homem, na animalidade substancialmente social em toda a sua estrutura, é O Grande Depravado Único Da Terra. Menos natural é o caminho para o chamado Futuro e O Depravado, devorando a própria carne como autocanibal, não sente fome nenhuma pela capacidade de ver-se destituído de qualidades naturais. Suas qualificações são subprodutos dos refugos sociais da mera superficialidade de sua mentalidade social, abaixo de tudo o que já foi depravadamente pensado. Pensam os depravados otimistas em um “mundo melhor de árvores que possam crescer em desertos”; esquecemos de criar raízes como as árvores e vivemos mortos nos desertos de escombros da naturalidade. Otimismo nascido de um depravado habitat social é uma piada na qual também não se vê nenhuma graça. Os otimistas são tolos, são animais depravados acumulando sonhos tolos e fazendo-se de tolices existenciais. Não existirá jamais um mundo melhor enquanto O Homem estiver cego à sua depravação existencial na existência social. Uma sociedade social é outra tolice, uma tola utopia; a Lei Natural ao comando do crescimento evolutivo humano, organização em uma transmutação da sociedade para algo melhor, é um tesouro a ser redescoberto.
As pás estão bem perto de mãos que possam empunhá-las. O mais difícil é onde começar a cavar em busca de tal tesouro.
Saudações Inomináveis a todas e todos vós, Seres Do Mundo!