Produção: Gou Nakanishi, Kensuke Tateishi e Tomoko Kawasaki
Direção: Hiroshi Nagahama
Roteiro: Aki Itami
Música: Hideyuki Fukasawa
Estúdio de animação: Zexcs
Emissoras de televisão (Japão): Animax, Tokyo MX, TVS, Chiba TV, tvk, GTV, SUN-TV e KBS
Período de exibição: 5 de abril de 2013 – 29 de junho de 2013
Episódios: 13Sinopse:
A história acompanha Takao Kasuga, um amante de livros complexos, cujo livro favorito é As Flores do Mal (Les Fleurs du Mal) de Charles Baudelaire[1], de onde a série retira seu nome. Um dia depois da escola, ele impulsivamente rouba as roupas de ginástica de Nanako Saeki, a colega de classe de quem ele gosta. Entretanto, uma garota solitária chamada Sawa Nakamura flagra Takao no ato. Nakamura prende Takao numa espécie de “contrato”, ou ela irá revelar seu segredo.
Créditos da Sinopse: Wikipedia
Inomináveis Saudações a todas e todos vós, Seres Do Mundo!
"O Anime Mais Feio De Todos Os Tempos", "O Pior Anime Já Feito", "A Pior Adaptação De Mangá Já Feita", "Um Anime Horrível". Estes são alguns dos títulos em diversos idiomas de vídeos no YouTube sobre a adaptação de 2013 do Mangá Aku no Hana (As Flores do Mal), da Autoria de Shūzō Oshimi, publicado de 2009 a 2011 na Bessatsu Shōnen Magazine da Editora Kodansha (e que começou a ser serializada aqui no Brasil pela Editora NewPop a partir deste ano de 2O22). Eu estava pesquisando no YouTube, sexta-feira, 1º de setembro de 2022, sobre o primeiro Dorama que assisti completo sem ser aqueles resumos de Séries que existem por lá, a adaptação japonesa de Hana Yori Dango (e que vou Resenhar aqui no blog em breve), considerada a melhor das versões em Live Action do Mangá escrito e ilustrado por Yoko Kamio. Fiquei curioso com o resultado inesperado da pesquisa quando surgiram os vídeos sobre um Anime do qual antes eu nunca tinha visto, ouvido ou lido nada sobre. E resolvi verificar por mim mesmo se a obra tão massacrada e pouco defendida no YouTube era tão terrível quanto anunciavam nos vídeos, realizando no domingo uma maratona com os treze episódios da primeira e única Temporada do mesmo no Animes Zone. Não vi nada de terrível, nem de horrível, grotesco ou qualquer adjetivo depreciativo que os YouTubers a atacá-lo até hoje utilizam com opiniões baseadas apenas no aspecto gráfico do Anime.
O Estúdio de Animação Zecxs e o Diretor Hiroshi Nagahama optaram pelo recurso da Rotoscopia, que consiste na captura de movimentos de pessoas reais para a composição dos personagens animados. Posso entender que muitas pessoas não tenham uma propensão a aceitar algumas escolhas criativas nada óbvias em adaptações ou materiais originais no Audiovisual, mas condenar a proposta de algo artisticamente diferente é privar muitos de assistirem o que foge da curva. Se eu fosse uma pessoa que se deixa levar pela opinião de um YouTuber qualquer que se sente o máximo apenas porque leu muito e assistiu muitas obras que ele tolera por atenderam as expectativas pessoais dele sobre como a Arte deve ser, teria perdido a oportunidade de conhecer algo com o qual existencialmente me identifiquei. O fato de ter lido muitos livros ou assistido quase tudo que já foi produzido não quer dizer que uma sujeita ou um sujeito que abra um Canal no YouTube seja um intelectual de primeira ou um Gênio ou senhora ou senhor maior de verdades insustentáveis. Não gosto de acompanhar qualquer tipo de YouTuber exatamente por causa da tendência de cada um deles em querer conduzir seus, digamos, "súditos", a acatarem tudo o que eles determinam como "bom", "assistível", "aceitável", "decente", "correto" e "na onda da avaliação do que comprova ser uma verdadeira obra de arte". Muitos exageraram nos ataques a esta adaptação, tendo como foco principal a própria Rotoscopia em si e a falta de fidelidade visual na caracterização dos personagens originais em suas versões animadas. Aqui, leitoras e leitores virtuais, então, lhes pergunto: é obrigatória a caracterização 100% idêntica de um personagem de Mangá em sua passagem para uma versão Live Action?
Se pensarmos bem, falando na grande maioria dos Mangás que se passam no Japão atual ou antigo ou futuro, dos mais diferentes Estilos, nenhum personagem neles se parece com uma japonesa ou um japonês. Não sou exatamente conhecedor do assunto referente ao fato de que os japoneses têm vergonha de sua aparência, como uma vez por alto fiquei a saber; nem tenho Ascendência Japonesa ou conheço japoneses que possam confirmar ou não se essa suposta vergonha existe. Poucos personagens se parecem com japoneses em Animes cuja trama se desenvolve em solo japonês e Aku no Hana é o primeiro deles onde me deparo com todos os personagens parecendo-se realmente com habitantes do Japão. Pode parecer algo inútil para você isto que estou dizendo, mas há uma diferença enorme em situar um Anime dentro de um território nativo apresentando os participantes dele como cultural e fisicamente inseridos com uma fidelidade que se aproxima da realidade. E posso dizer que o uso da Rotoscopia e de cenários recriando fielmente o ambiente físico aproximou cada situação ao nosso cotidiano problemático, onde tudo é tão cinzento quanto caótico, vazio e podre por qualquer ângulo de possibilidades de visão que se tenha do todo. Como um dos defensores de Aku no Hana disse em um vídeo defendendo o mesmo, o Anime é para poucos e corresponde apenas às expectativas destes poucos que podem absorvê-lo sem julgá-lo através de comparações com diversos outros Animes. A polêmica gerada na época foi exagerada demais e ainda se aponta ridícula em vídeos recentes condenando a obra por causa disso ou daquilo. YouTubers não servem para nada além de privarem os que se deixam levar pelas palavras deles de conhecerem algo a fim de terem uma opinião própria, sem ter sido copiada dos lábios de charlatães videomáticos que, na maioria das vezes, querem apenas ser famosinhos e relevantes.
Me desculpo agora com os que acompanham este blog ou os que por um acaso vierem parar aqui por causa desta Resenha. Me desculpo por até agora não ter falado do Anime em si, mas eu precisava contextualizar um dos erros que fazem com que muitas obras sejam subestimadas. Erros como o desses pseudointelectuais que lotam o YouTube com vídeos claramente voltados a fazerem uma Lavagem Cerebral vomitando conceitos atrás de conceitos cujo único propósito está em alcançar visibilidade, não instruir as pessoas. Já destaquei aqui no blog muito do que já li, ouvi e assisti como obra-prima; e com todo o modo como Aku no Hana se impregnou em mim, o epíteto aqui cabe com uma tremenda propriedade, autenticidade e invariabilidade. Aos meus olhos, é uma obra-prima; aos seus olhos, conhecendo ou vindo a conhecer depois de ler esta Resenha, pode não ser. É bom ser claro e honesto em cada Resenha ou Opinião porque nunca pretendo fazer Lavagem Cerebral ou agir de modo autoritário pretendendo empurrar goela abaixo dos outros o que eu aprecio artisticamente. Não fragmento nunca minhas palavras ou sou relativista, mas o máximo de realista ao continuamente afirmar isto a cada texto meu onde falo do que ouço, leio ou assisto: tirem por si mesmo as próprias conclusões sobre uma obra aproximando-se dela como ouvinte, leitor ou espectador. Honestidade reina aqui e, por causa disso, sou obrigado a dizer que o Anime aqui resenhado não se compactua com o ritmo agitado e agitador das escandalosas obras japonesas mais famosas que parecem correr em uma ultravelocidade cheia de efeitos e vazia de conteúdos. A única corrida presente nela é para o interior, uma proposta psicológica de afundamento no que incomoda, no que deteriora, no que destrói, no que angustia e no que deprime. Este é um Anime quebrado para pessoas quebradas e depressivas; e, também, para pessoas que gostam de meditar sobre os porquês e os fins e os meios e os começos de todas as coisas no mundo objetivo.
Uma intelectualizada obra, outro aspecto que afasta muitos porque nela se necessita ter um certo fundo de introspecção e alguma cultura que vá além do pouso em alguma superfície de qualquer conhecimento ou saber intelectual adquirido. O personagem principal, Takao Kasuga, é um leitor sagaz e profundo de livros de uma incomum complexidade, o que o diferencia e afasta de todos os demais colegas dele do Ensino Médio. E o diferencia e afasta também das demais pessoas da cidade onde ele vive, indivíduos que muitas vezes no Anime são rapidamente vistos sem feições, deixando claro uma falta de identidade própria. Ele mesmo, Takao, é algumas vezes visto sem feições, como parte de uma população produzida no laboratório dos comportamentos e ações iguais de todas as demais pessoas da cidade. O Autor preferido dele é Charles Baudelaire e As Flores Do Mal, de onde advém o título do original em japonês, é seu livro preferido, substancialmente sendo-lhe um guia, um mestre, uma senda, um templo e uma religião. Entre todos com os quais ele convive na escola, encontra-se Nanako Saeki, a garota pela qual ele nutre um interesse amoroso e é tímido demais para dela se aproximar. Um dia, ao sair da escola, ele esquece o livro de Baudelaire, voltando para buscá-lo na sala, e se depara em um pequeno armário com uma pequena mochila contendo a roupa de ginástica de Saeki. Ele se apropria, em um impulso que é misto de interesse erótico e curiosidade, da vestimenta, saindo correndo da sala após ouvir um barulho estranho que o assusta. O impulso lhe custou caro, ter consigo a roupa com o odor e a presença de Saeki com ele ocasionou-lhe problemas grandiosos. Uma aluna que se sentava logo atrás dele e que por todos na sala era antipatizada, Sawa Nakamura, viu que ele se apoderara da roupa de Saeki. Com essa informação e tendo-o nas palmas das mãos, Nakamura começa a perseguir, chantagear e forçar Takao a fim de fazê-lo publicamente expor-se como "o pervertido" que, segundo a concepção dela, ele era.
Um tipo de Bullying é praticado por Nakamura em Takao, sempre objetivando fazer este liberar a pervertida personalidade que ela frequentemente tenta fazer vir à tona nele. Porém, chamar de "Bullying" o que ela pretende ao fazer com que ele passe por situações que façam com que Saeki e todos os demais da sala, da escola e da cidade saibam da perversão dele, reduziria o Anime a uma trama escolar qualquer. Aku no Hana se posiciona muito acima disto e o que Nakamura tenta fazer é retirar todas as camadas protetoras reducionistas da verdadeira personalidade de Takao uma por uma. Para muitos, ela pode parecer uma personagem desagradável por chamar a todos a toda hora de "bando de merdas", mas na verdade ela é o centro de toda a história que psicologicamente desce por meandros das atitudes humanas que constroem torres de pó com bastante eficiência para parecem como se feitos de diamante. O jogo que ela faz com Takao é diabólico, visceral e calculista a fim de que a existência dela naquela cidade de merda com pessoas de merda deixasse de ser apenas uma merda. Não há maldade nela, nenhuma crueldade ou algum tipo de psicopatia; Nakamura é tão depressiva e insatisfeita com o ambiente urbano onde vive quanto Takao. E a Musa deste, que ele vê como perfeita e angelical, pura e nobre, também carrega depressão e insatisfação ao se sentir carregada pela constante obrigação de ser a melhor filha, a melhor aluna e a melhor garota de família diante dos olhos da sociedade. Saeki se sente oprimida como se fosse uma boneca modelada para seguir padrões e dentro da história ocupa ao lado de Nakamura o mesmo ponto focal de centralidade que se encontra em fusão no que por instinto Takao fez. Ela se sente tão bloqueada e sem perspectivas diante do que a aguarda como uma cidadã comum da sociedade que diz para Takao, quando fica sabendo que este foi quem se apoderou da roupa dela, estar feliz por ter sido objeto de tal ato.
Takao, Nakamura e Saeki não são desequilibrados, nem doentes ou pervertidos moralmente. Perversão assume lugares nesta obra que vão além do contexto sexual e se demonstram presentes na metáfora da estranha flor que nasceu com o ato natural de interesse de Takao por algo que pertencia à amada dele. A Perversão Moral surge porque os valores que valem para um grupo tentam ser introduzidos naqueles que nada tem a ver com eles. A Perversão Existencial surge porque um exemplo de vida perfeita nem sempre serve para quem não crê neste tipo de fantasia completa agarrada a um contexto social. A Perversão Intelectual surge porque o acúmulo excessivo de uma erudição entre pessoas que basicamente não passam do básico das informações soa mais como querer parecer diferente quando não se é muito afastado do outro visto como estúpido ou ignorante. A Perversão Sexual, reduzida a ser aqui uma expressão que não se processa como Nakamura, para um espectador atento, quer que seja, surge como um discurso que denuncia seu próprio processo de deterioração e desencanto. Grande tensão sexual há entre os três personagens que sentem o odor das Malignas Flores que cresceram entre eles sem que percebessem ou sentissem. Flores com também malignos espinhos projetando-se para as emoções, as ações, os pensamentos, as motivações, as razões e os caminhos menos explorados do Ser. É constante a sensação de sufoco deles, assim como a sensação de que eles, a qualquer momento, podem explodir, destruindo-se e destruindo o mundo que os deprime e oprime em redor. Pesado, angustiante, danoso, nada agradável e nada feito para fazer com que um sorriso no rosto se abra é como Aku no Hana é. Só há destruição aqui, se formos pelo princípio de que a realidade precisa ser destruída para que possamos construir um mundo próprio sem que tenhamos que ser obrigados a ser, a ver e a agir como os outros são, vêem e agem. Destruição é o que quer Takao. Destruição é o que quer Nakamura. Destruição é o que quer Saeki. Destruição que os liberte da merda de um convívio social em direção ao outro lado das coisas.
Mas, os três percebem que não há o outro lado, principalmente Nakamura. A cena mais libertadora e uma das mais lindas que já assisti em um Anime é a da vandalização da sala de aula feita por ela e Takao. Nessa cena, um momento longe das perversões múltiplas da realidade onde vivem, os dois demonstram ser o que são em verdade, sem máscaras, sem pressão, sem opressão e sem depressão. Essa cena termina um episódio e no episódio seguinte os dois saem de mãos dadas da escola, uma sequência que ocupa quase dez minutos de um total de vinte e cinco de duração. Em silêncio, caminhando de mãos dadas pelas ruas, em direção às casas deles, sujos de tinta da cabeça aos pés, os dois vivem um momento de plenitude muito libertadora. Os significados das duas maiores sequências do Anime precisam ser contemplados em silêncio igualmente, os dois oferecem o que não é com frequência visto na própria Arte da Animação ou em obras Live Action. O Subversivo caminha de mãos dadas com o Surreal, o Psicológico, o Filosófico e o Existencialismo, tudo que a massa do público consumidor de Animes não dá qualquer valor. Nada aqui é fácil de ser assistido, nem os dois momentos mais reflexivos que destaco neste parágrafo, posto que incomodam muito abrindo espaço para indagações que nunca terminam em quem gosta de meditar sobre o que consome sendo consumido. Fui consumido por esta trama e pretendo assistir mais vezes para ter olhares diferentes, interpretações diferentes e visões próprias meditativamente diferentes.
O Anime não agradou aos japoneses e por causa disso não teve uma Segunda Temporada. Há um filme Live Action, o qual irei Resenhar amanhã; e, como eu disse no primeiro parágrafo, a NewPop está publicando o original em Mangá aqui no Brasil, o qual pretendo adquirir. Tenho que fechar esta análise pessoal para não me prolongar no que em apenas um texto não pode ser explicado ou desenvolvido. Há muito em Aku no Hana de rico para quem explora em si o que ele tem a oferecer. É uma obra que seria para todas as pessoas se todas as pessoas fossem interessadas em pensar, meditar e questionar tudo no qual estão inseridas. Infelizmente, muito poucas pessoas são como eu a ponto de se identificarem em absoluto com ela. Não deveria ser assim, mas as flores que nascem entre nós tendem a exalar seus odores de maneiras diferentes para cada um. Malignas flores que devemos esmagar, abraçar e amar como Takao, Nakamura e Saeki fazem ao compreenderem a inexistência de um outro lado onde tudo é diferente. O Jardim onde Flores do Mal crescem não cede espaço para nada mais além dele. Aceitar isto é duro, um aprendizado que livro algum possui, o que Takao percebe ao abandonar a todos, até mesmo o preferido. Takao de nada entende sobre o que lê. Nakamura de nada entende sobre o que tanto quer ver como perversão. Saeki nada entende sobre o que tanto busca como novo caminho. Não são personagens muito distantes de nós, humanos nesta realidade filtrados em uma Rotoscopia de malignidade e insanidade através do que escolhemos para nós de maligno ou de benigno aos olhos dos outros. O trio acima tenta fugir disto e não consegue. Eu não consigo. Você consegue?
Saudações Inomináveis a todas e todos vós, Seres Do Mundo!
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