Coréia do Sul
Cor
2017
113 min.
Título original: 죄 많은 소녀
Título Romanizado: Joi manheun sonyeo
Direção, Roteiro & Edição: Kim Ui-seok
Elenco: Jeon Yeo-Bin (Lee Young-Hee), Seo Young-Hwa (Mãe de Kyung-Min), Go Won-Hee (Han-Sol), Lee Tae-Kyoung (Yoo-Ri), Yoo Jae-Myung (Detetive), Seo Hyun-Woo (Professor), Jeon So-Nee (Kyung-Min), Lee Bom (Da-Som), Chu Yeon-Gyu (Tio de Kyung-Min)
Cinematografia: Baek Sung-bin
Música: Sunwoo Jung-a
Idioma: Coreano
Sinopse:
Uma estudante do Ensino Médio desaparece. Seu corpo ou qualquer evidência de seu desaparecimento não é encontrado, mas a menina é suspeita de ter saltado de uma ponte. Uma de suas colegas de classe, Young-Hee descobre que foi a última pessoa a vê-la viva e a partir daí a mãe da menina desaparecida rapidamente lança acusações contra Young-Hee. Logo, as colegas, professores e detetives questionam sua inocência.
⚖️Créditos da Sinopse: Cine Asian Space
Inomináveis Saudaçõels a todas e todos vós, Seres Do Mundo.
Este é um filme sinistro mostrando tudo que realmente ocorre tanto no país onde se passa (Coréia do Sul) quanto aqui no Brasil e em todos os países do mundo: as pessoas não se importam quando alguém se suicida e ficam buscando razões para não admitirem a culpa que possuem quanto ao fato por nada terem visto de anormal ou de indicativo de tal atitude em quem pratica dito ato. Assisti-o no começo da tarde do dia 16 de janeiro do ano de 2023 e a imersão nele me deixou totalmente sem chão, a angústia e o peso da obra machucam demais. Não recomendo para quem tem Depressão Profunda e nem aos que passam por desequilíbrios vários que possam tender para medidas extremas, para o fim de todas as dores e momentos.
Positividade não é o tom e nem a natureza deste filme, que foi realizado dentro de específicas margens entre as entrelinhas de diversos detalhes que precisam ser bem observados para sua plena compreensão. Todos os motivos que levaram Kyung-Min ao suicídio desfilam pelas sequências do início ao fim das buscas pelo seu corpo, após o seu funeral e no Verdadeiro Martírio que é imposto à última pessoa que com ela encontrou-se em vida, Young-Hee. São detalhes colhidos em pormenores que de nada fácil modo o Diretor, Roteirista e Editor Kim Ui-seok lança paulatinamente na mente do espectador.
Sendo todo cerebral, este estilo de filme necessita de uma total concentração em suas características e natureza. Abordá-lo sobre um ponto de vista determinista e racional não tem como bem frutificar em um resultado coerente com qualquer tipo e nível interpretativo sobre ele. É preciso pensar como um suicida, penetrar nas camadas depressivas de uma personalidade auto-destrutiva, incendiar-se nas chamas de um Ser em ruínas pronto para dar um fim ao seu tormento na Terra. Os ecos de diversas histórias de suicídios chegam até mim agora e vou contar a seguir uma triste lembrança da minha adolescência.
Havia perto de mim um colega de infância que, um dia, suicidou-se em casa. Não lembro a forma como isto se deu, visto que a família dele não deu muitos detalhes sobre o ocorrido. Lembro dele como alguém que estava sempre sorrindo, mas um tanto quanto distante. Não éramos íntimos e nem vivíamos um na casa do outro, era uma relação apenas de jogar algumas peladas na rua e soltar pipas. E, um dia, ele se matou. Fui com a minha falecida e saudosa mãe na casa dele, encontrando os pais e as irmãs plenamente desolados, perdidos, desesperados e não acreditando no que ocorria. Era como se tivessem convivido com alguém que, pouco a pouco se fragmentava, arruinava e extinguia até desaparecer por completo do convívio com eles. Estes nada viam, nada ouviam, nada sabiam. E, talvez, nem sequer procurassem ter conversas profundas com ele para saber se estava mesmo tão bem quanto aparentemente eu via na rua.
Exatamente como essa família que era vizinha minha, a família da personagem Kyung-Min neste filme age após o suicídio desta. Agem como se não tivessem conhecido a filha quando estava materialmente ao lado deles. Agem como se nunca tivessem olhado verdadeiramente para ela. Agem como se nunca tivessem parado para entendê-la como um Ser Humano único e não apenas alguém que eles juntos geraram para poderem constituir uma "família feliz". E o funeral da filha deles tem uma parte bizarra e exagerada que foi posicionada intencionalmente para mostrar o grau de elevada ignorância de toda uma família. Por mais que eu respeite crenças religiosas (e aqui vai um pequeno spoiler; me perdoem por isto, mas é necessário comentar a parte totalmente ridícula do filme que o torna impecável no Realismo de situações toscas que temos pelo mundo), o Ritual Xamânico organizado pela avó da garota é de um charlatanismo claríssimo. E claríssimo também fica o percebimento de que o restante da família dela sequer sabia quem ela era e seu suicídio a todos fez perderem-se tentando encontrar os motivos.
Agem da mesma forma perdida os Professores da Escola e o Diretor, os quais, nota-se, não estão interessados no Bem-Estar Mental e Existencial das alunas da Escola Feminina onde a falecida personagem central desta obra estudava. Nota-se muita hipocrisia deles em certos momentos e, até, é mostrado um diálogo no qual eles comentam e planejam se reunir para uma festa mesmo com a Escola ainda abalada pelo suicídio de uma das alunas. Assistindo o filme, fiquei chocado com isto, que foi mais um pé na realidade dada pelo Cineasta que o realizou de modo tão sincero, excepcional e denunciante do quanto de desumano há em certas pessoas envolvidas com a Educação. Uma Escola bem estranha com alunas muito estranhas, sob diversos pontos de vista; e as mais estranhas colegas de turma de Kyung-Min fazem crescer a desconfiança que a a mãe desta e a Polícia tem de Young-Hee. Bullying, perseguição, olhares atravessados, acusações, dedos apontados, abuso de diversos adultos e um ato drástico tomado por aquela que foi escolhida como bode expiatório por todos culmina em um outro filme dentro de After My Death.
A tradução do título em Coreano é “Garota Pecadora”, o que faz direta referência não a Kyung-Min, mas a Young-Hee, a qual sofre todo tipo de perseguição imaginável. A pecha de “pecadora”, de “errada” e de “anormal” por causa da verdadeira natureza da relação que ela tinha com a amiga que se suicidou fazem-lhe ser marcada socialmente como uma criminosa. Até o ponto citado acima, onde ela toma uma drástica atitude para poder gritar ao mundo muitas verdades, é revoltante assistir como a menina sofre de toda forma por causa de todo tipo acusador de comentários e atos contra ela. Após aquela atitude, que não posso aqui revelar porque seria um spoiler bem pior do que o pequeno revelado acima, o filme se torna não mais sobre o suicídio de Kyung-Min e, sim, sobre a fraturada, quebrada, curvada e dobrada existência de Young-Hee com um peso dramático carregado de muita desolação, escuridão e abismos.
O título em Inglês do filme, traduzido para o nosso idioma como “Após Minha Morte”, também faz todo o sentido porque se refere também a Young-Hee e não a Kyung-Min. Somente assistindo ao filme, vocês poderão entender muito bem o que com isto quero aqui dizer, a virada fundamental da trama insere nesta muitas outras perturbadoras camadas bastante densas e agudamente dolorosas. A interpretação visceral e natural de Jeon Yeo-Bin como a atormentada Young-Hee é uma das mais brilhantes e sensacionais com as quais já me deparei. É a melhor e maior atuação do Elenco, com um toque sombrio correto no olhar vazio, no modo descompassado de caminhar e na sensação de que vemos alguém verdadeiramente aos pedaços toda vez que a intérprete da personagem faz até gestos menores com o corpo. O filme é ela e ela é o filme, capturando todas as cenas, sequestrando todas as sequências e apagando todas as demais interpretações (ela não precisou nem se esforçar ou adotar posturas mais insinuantes no modo de interpretar para apagar a todos que contracenaram com ela). Não estou exagerando quando afirmo que Yeo-Bin é uma excelentíssima Atriz e toda a obscura alma desta produção triste carregada de uma permanente sensação de decadência tanto de valores quanto de virtudes e vícios.
Porque nele há muita coisa se revelando e muita coisa se escondendo ao mesmo tempo, assim como na nossa vida cotidiana se estamos com os olhos bem abertos para todos os acontecimentos que nos dizem respeito diretamente ou não. O diálogo final entre Young-Hee e a mãe de Kyung-Min é o mais alto exemplo desse jogo da Natureza que parece brincar com as nossas percepções a todo instante. É o diálogo esclarecedor que dá muitas respostas e deixa muitas perguntas em aberto, necessitando que o espectador sinta-se provocado para tentar responder ao que todo o filme não respondeu. A mais inteligente e original forma de se concluir este filme não está, porém, na última cena dele ou no último diálogo citado neste parágrafo. Está em sua abertura, cujos prints em sequência postei antes de posicionar aqui na Postagem este texto. Uma compreensão do que informo aqui será completa ao assistir-se a obra com muitíssima atenção, ligando todos os fatos quando os créditos encerrarem-na.
Um dos mais desoladores filmes aos quais já assisti e que entra para os meus preferidos é este aqui. Ele contém muita verdade e, também, muito senso de querer contar uma história sem aplainar seu peso quase insuportável. Uma história que o mundo ainda verá muitas vezes porque o tema principal dele é uma contemporânea face da nossa Sociedade Planetária. Muita gente se autodestrói e ninguém vê, somente chorando e se desesperando quando o pior acontece. Ninguém mesmo consegue ajudar quem caminha por escuros túneis, entretanto… E esta é uma das tenebrosas verdades do nosso mundo presente neste filme.
Filme pesado, melancólico e que revolve-se nos braços da Deusa Morte.
E ensina muito para quem escolhe A Deusa Vida.
Saudações Inomináveis a todas e todos vós, Seres Do Mundo!
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