Imagem de Tapani Hellman por Pixabay
Não sucumbe à chuva
Nem ao vento nem à neve
Nem à canícula do verão.
Firme no corpo,
Contudo
Sem cobiça,
Sem ira,
Sempre sorridente
E sereno.
Come suas quatro tijelas
De arroz por dia
Com pasta de feijão
E alguma verdura.
Desconsidera-se a si mesmo,
Mas vê e ouve tudo,
Compreendendo
E jamais esquecendo.
À sombra de um bosque
De pinheiros
Mora numa pequena
Cabana de sapé:
Se uma criança adoece
No Oriente,
Vai atendê-la;
Se no Ocidente
Uma mãe está cansada,
Vai carregar-lhe
Os feixes de arroz;
Se ao Sul
Há um homem moribundo,
Vai mitigar-lhes os temores;
Havendo qüerelas e litígios
No Norte,
Vai e diz:
"Deixem de mesquinhez!"
Na seca,
Ele derrama lágrimas,
E se no verão faz frio,
Caminha por entre lágrimas.
Todos o têm
Na conta de louco.
Não é elogiado
Nem tomado à sério.
Um tal homem
É o que desejo ser.
Kenji Miyazawa
Inomináveis Saudações a todas e todos vós.
Aos insensíveis o poema acima é piegas, tolo, antiquado, a falar de um comportamento que não é visto com freqüencia neste mundo. A senda da matéria possui entes assim insensíveis, desprovidos da visão de que o desapego das coisas materiais é O Caminho Definitivo. Amo a Filosofia Mística e sinto-me bem em ser um estudante de Filosofia que apesar de ter contato com pensamentos materialistas admira o Misticismo.
Com isto não quero dizer que eu esteja fora do mundo, o que todos já viram neste blog que eu não estou. Consigo aliar a minha veia mística com as necessidades materiais que, infelizmente, em cada um de nós, gritam que devem ser satisfeitas. Poucos de nós possuem o desejo de ser aquele tipo de ser descrito no poema de Kenji Myiazaki e até este que vos escreve sente dificuldade em tentar ser um desapegado.
O desapego vem a ser A Fonte Da Verdadeira Força Do Ser, uma magia interior que atua através de todos os ditames sábios da Voz Do Silêncio, esta Voz a ser a orientação de todos os verdadeiros fortes. Na Voz, a força é colhida diante das formas em redor das coisas que podem servir de ensinamentos aos que procuram-na. Na Voz, a violência dos que se julgam fortes é peça quebrável de um jogo amargo e inútil do humano transcorrer da História.
O conceito do mais forte aplica-se a Adolf Hitler, Napoleão Bonaparte, Getúlio Vargas, George W. Bush, Saddam Hussein, Hullolah Khomeini, Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, François Miterrand, Hugo Chávez, qualquer animal social mais infantil do que uma criança, ou todas estas, que brincou de governante, ou brinca de governante, não encontrando nenhuma solução para pelo menos uma pequena tentativa de mudança inicial de qualquer pequeno problema mundial? Certamente, o conceito do mais forte não se adapta a nenhum "grande homem" que marca presença em livros e dicionários, ou que marcará futuramente, pelas suas "obras" tão significantes para o mundo quanto àrvores mortas verticalmente dispostas sendo serradas e divididas em variadas dimensões.
O mais forte, Irmãos Blogueiros, é o homem desapegado, aquele descrito no poema acima, de uma humildade gigantesca em seu modo de ser para o mundo, de estar no mundo, de realizar o seu mundo de força superior, verdadeiramente superior, que não é exibido aos gritos pelos recantos todos deste mundo. O exemplo mais próximo, ou melhor, a realidade do ser desapegado, do homem desapegado, encontra-se na condição evolutiva dos Adeptos, dos Mestres cridos pela Sociedade Teosófica, que mesmo distantes existencialmente de qualquer membro comum da Humanidade continuam a agirem em prol da evolução desta em geral.
Se um animal social seguidor de palavras moralistas mortas soubesse que agir desapegado a si mesmo e a tudo é o caminho mais correto, calcaria a sua existência na construção de uma atitude como a de um Adepto. Estar desapegado é estar consciente do que leva o Homem a suicidar-se todos os dias com as armas de sua autodestrutividade adquirida socialmente. O desapego não é desligamento do mundo ou dos seus problemas; o desapego é a chance de ver o mundo verdadeiramente, sem julgá-lo precipitadamente, sem condená-lo violentamente, sem odiá-lo conseqüentemente após nele muito sofrer.
Sendo verdadeiramente forte, o desapegado a nada sucumbe. Sendo verdadeiramente forte, o desapegado nada ambiciona. Sendo verdadeiramente forte, o desapegado pode dar conforto e força, na forma de auxílio material e espiritual, a todos os sofredores. Sendo verdadeiramente forte, o desapegado vive na verdadeira felicidade e para ele dores e lágrimas são desconhecidas cadavéricas formas.
Saudações Inomináveis a todas e todos vós.
09 de julho de 2006